quinta-feira, 7 de maio de 2009

Alguém à espreita (e não é o Diabo)


O genial Raul Seixas disse que “enquanto Freud explica as coisas o Diabo fica dando os toques” (Rock do Diabo). A brilhante frase fica latejando dentro da gente como um grito que não quer calar. São mais perguntas que respostas.


Perguntas sobre o que somos nós, seres passíveis de desejos terríveis ou almas suscetíveis às mais delirantes tentações? O Diabo vem aqui fazer de nós gato e sapato ou é lá de dentro que surgem indecorosos pensamentos?


Temos visto atitudes que até Satanás ficaria vermelho de vergonha. Ou, se ele é tão mau quanto dizem, deve soltar fogos de artifício e esquentar ainda mais os rincões do inferno. Coitado de quem estiver por lá.


Difícil dizer que haja coisa pior que a pedofilia. Qualquer pessoa tida como “normal” tem asco. A repulsa procede: todos nós somos rodeados de crianças e adolescentes, sejam nossos filhos, sobrinhos, netos, irmãos, filhos de amigos. Mas isso nem é necessário, porque só de pensar em maldades contra eles, parentes ou desconhecidos, já vem aquele sentimento de repugnância contra o agressor.


É nessa ambiguidade que mora a espetacular letra do Raulzito. Porque, que me desculpem os crentes na existência do Diabo, tem muito mais perversidade no coração de muito ser humano por aí do que pela obra de Lúcifer. E não era Satã que ficava dando uns toques para Freud, não. É coisa humana mesmo, de carne, literalmente.


Óbvio que pedofilia é apenas uma das inúmeras perversidades a que o ser humano é capaz. E por mais que Sigmund Freud explique por meio dos acontecimentos de nossa psique durante a infância, isso não quer dizer que tenhamos que ser complacentes com qualquer atitude de crueldade contra qualquer um que seja. Ainda mais contra crianças.


Volto ao Belzebu. Não que eu acredite que o Tinhoso não exista, mas fica muito fácil jogar nas costas do Coisa-Ruim perversidades que não têm nada a ver com outros mundos. Não se pode brincar de esconde-esconde com a falta de caráter, com a desumanidade destas pessoas.
Trazendo para nosso mundinho chamado Terra, é preciso que a Justiça seja realmente severa com estas pessoas que não aprenderam a viver em comunidade. A impunidade tem feito muitos ladrões, assaltantes, estelionatários, traficantes, homicidas e pedófilos por aí. Quem anda na linha precisa ser respeitado e não viver escondido atrás das grades das próprias casas.


Mas não basta a Justiça ser mais enérgica. Deve partir do Executivo as condições para que isso seja possível. Porém, não é o que temos visto. Na maioria das vezes dentro da própria política estão os que se apossam do dinheiro público, outro ato que nada tem a ver com a figura do Diabo, e sim com a diabólica máquina da corrupção. Além disso, os governos em todos os níveis têm que dar condições às polícias, melhorar e ampliar a rede penitenciária e dar real atenção a esse grave problema da violência.


O Legislativo também não pode fugir de sua missão. Primeiro, tem que estar vigilante e cobrar do Executivo as ações inerentes à sua função. Segundo, tem que fazer as leis que permitam ao Judiciário agir corretamente. Sem os instrumentos legais corretos em mãos, a Justiça fica de braços amarrados.


Por último e aí vem o principal: as autoridades têm que dar condições básicas para as pessoas viverem uma vida digna. Com mais educação, saúde, cultura, lazer, esporte não há dúvidas que será menor o número de pessoas transgredindo as regras sociais.


Só que, mesmo com todas estas medidas tomadas, estejam certos que ainda assim haverá muita maldade solta por aí. Por isso, temos que estar vigilantes. Satã pode estar ali na esquina. Pior que ele, pode ser mais um pedófilo à espreita. Nem Freud explica.

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