sábado, 21 de novembro de 2009

Vamos nos livrar dos pré-conceitos


Comprei um DVD da Amy Whinehouse dia desses apenas para transformar em imagens aquilo que já vinha ouvindo compulsivamente nos últimos tempos em CD. Play ligado, pessoal lá de casa girou o dedo indicador ao redor da orelha e a pergunta ecoou rápida e fácil: “Será que ele ficou louco?”.

É a velha máxima da primeira impressão é a que fica. Quando viram aquela figura bizarra, uma mega-franja com cabelo meio-preso subindo um quase meio metro para cima, monte de tatuagens, cílios postiços gigantes, pernas finas desengonçadas, bebendo uma dose atrás da outra de não sei se vodka, conhaque ou uísque, dançando com um jeito tímido de quem não sabe o que está fazendo, acharam ao meu lado que eu é que não sabia o que estava fazendo.

Amy é sim uma figura bizarra, sem dúvida. O noticiário dos muitos sites e revistas de fofocas mostram-na todo dia entre bebedeiras, drogas e confusão. Mas, se ela é tímida ao dançar e se postar no palco, quando abre a boca sai uma inacreditável e poderosa voz. Além do quê, encontrou um estilo diferente para o momento, mas que remete aos anos 50 e ao jeito também espetacular dos grandes clássicos de Ray Charles (aliás, vejam o sensacional filme “Ray” em que Jamie Foxx dá um show de interpretação, tanto que ganhou o Oscar).

Bom, mas não estou aqui para defender a voz ou estilo da Amy ou sua música. É só para comentar como não temos o hábito de conhecer alguma coisa a fundo antes de julgá-la: sejam pessoas, objetos, dogmas, teorias e afins.

Normal que tenham uma reação assim à Amy. Normal porque o ser humano é assim. Somos cheios de pré-conceitos e preconceitos. Na nossa pressa de sempre, não esperamos o que de fato são.

O engraçado é que o normal é tecermos rapidamente um raio-X, como se de tudo entendêssemos e precisássemos nos posicionar. Poucos têm a coragem de ser como Raul Seixas que “queria desdizer aquilo que já tinha dito antes”. O Maluco Beleza preferia ser uma metamorfose ambulante do que ter opinião sobre tudo.

Genial como sempre, Raulzito antecipou ironicamente o que estou escrevendo aqui: que todos nós somos meio metidos a besta, que queremos ser os tais que sabem de tudo, sem saber de muita coisa na verdade. Isso acaba nos tornando pré-conceituosos e preconceituosos – e assim defeituosos e pecaminosos.

Voltando à Amy, na verdade a primeira impressão ficou também para o pessoal lá de casa em relação ao som – eles não gostaram muito da música tanto quanto da imagem. Eu, porém, continuo com a minha opinião de que ela é demais. Mas, posso não pensar assim daqui a algum tempo. Por que não? Sem pré-conceitos.